A economia da distração – Parte 2

A economia da distração – Parte 2

A economia da distração – Parte 2 – A chamada “economia da atenção” já é uma expressão bastante conhecida e usada. Leia aqui a Parte 1.

Multitarefas

Uma das principais consequências de estarmos constantemente sendo bombardeados com informações é a falta de tempo para dar conta de tudo. Todos temos apenas 24 horas por dia, independentemente de quem somos. Quando temos essa sobrecarga de informação e tentamos acompanhá-la, acabamos sofrendo com estresse e crises de ansiedade. Um fenômeno cada vez mais comum é o de fazer várias coisas ao mesmo tempo, o chamado “multitarefas”. Neste momento, por exemplo, eu aposto que você está lendo este texto pausando a leitura para ver outras coisas ou ao menos pensando em outras tarefas que precisa fazer ao longo do dia. É muito difícil manter o foco para completar algo de ponta a ponta sem interrupções.

Em 2015, uma pesquisa da Activate.com mostrou que os americanos, em média, fazem atividades 31 horas e 28 minutos por dia, ou seja, durante sete horas e 28 minutos do dia eles estão fazendo mais de uma coisa ao mesmo tempo. Como estamos oito anos à frente e de lá para cá, como mencionei anteriormente, a oferta do que fazer e o consumo aumentaram, é bem provável que o número de horas multitarefando tenha crescido também. Porém, diferentemente do que muita gente acredita, ser uma pessoa multitarefas não é bom, tanto em termos de produtividade quanto em saúde.

Cientificamente falando, até o emprego da palavra multitarefa é errado, uma vez que nosso cérebro não tem estrutura cognitiva para cumprir duas ou mais tarefas ao mesmo tempo. O que fazemos é trocar entre tarefas rapidamente e, apesar de ser algo em frações de segundo, há déficits consideráveis (chamadas de custos de troca) em performance neurológica, que podem resultar em mais erros. Há estudos que apontam até 40% de perda de produtividade quando se tenta fazer muitas coisas ao mesmo tempo. É algo lógico; só pensar nas vezes que você estava, por exemplo, assistindo a um filme, olhou o smartphone para checar uma mensagem e teve que retornar para ver o que aconteceu. Imagine isto no trabalho, a quantidade de tarefas malfeitas por falta de atenção e entendimento adequados, fruto de uma mente que tenta se dividir para atender a várias demandas.

A economia da distração – Parte 2

Quando falamos em saúde, também há preocupações consideráveis com multitarefar, especialmente entre os mais jovens. Estudo publicado pela Associação Americana de Pediatras em 2017 apontou que, por terem cérebros ainda em formação, crianças e jovens adultos com altos níveis de práticas multitarefas apresentaram diferenças em cognição (ex: pior memória), comportamento psicossocial (ex: aumento de impulsividade) e estrutura neural (ex: volume reduzido no córtex cingulado anterior), sem contar problemas acadêmicos. Outro estudo, de 2018, com adolescentes entre 15 e 16 anos de Los Angeles mostrou correlação entre o uso exagerado de mídias digitais e sintomas de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) pelo fato de estas mídias serem atividades de estímulo intenso. Há, inclusive, quem relacione o crescimento exponencial em diagnósticos de pessoas com TDAH e o aumento do uso de telas e mídias digitais. Entretanto, não são só jovens que podem ter problemas; adultos também apresentam níveis elevados de ansiedade quando passam a realizar multitarefas.

O pecado original da internet

A primeira vez que li o termo “Distraction Economy” foi em um artigo do Shumon Basar, na Zora Zine. Nele, o autor escreve: “A economia da atenção foi renomeada para descrever com mais precisão seu mecanismo de trabalho e objetivos: o de aproveitar a fraqueza das pessoas por uma distração sem fim impulsionada pela dopamina”. O modelo de negócio da internet é baseado basicamente em manter as pessoas atentas (ou distraídas?) pelo máximo de tempo possível; as próprias plataformas são desenvolvidas pensando nisso, com seus mecanismos de curtidas, comentários e reposts, que entregam a supracitada dopamina de forma contínua no cérebro dos usuários. Aliás, quando se fala em UX (user experience) não se está pensando em melhorar a experiência do usuário porque se quer o bem dele e, sim, para que ele fique cada vez mais preso dentro de um ecossistema.

A economia da distração. Leia a Parte 3. Original de Felipe Ribbe de Vasconcellos.

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Crédito: Publicado por Felipe Ribbe de Vasconcellos – web3 builder | Communities | Innovation | New Technologies
Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/economia-da-distra%C3%A7%C3%A3o-felipe-ribbe-de-vasconcellos/

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